A Fiat do Brasil mostrou, no último dia 12, alguns detalhes de como vai ser o seu novo carro conceito, o Fiat Mio (“Meu”, em italiano). O modelo é o primeiro da história do automobilismo mundial a ser desenvolvido em crowdsourcing, sistema colaborativo no qual os internautas participam da elaboração do projeto. O lançamento do Mio está previsto para o Salão Internacional do Automóvel de São Paulo, que ocorre em outubro.
Essa história começou um ano atrás, quando a montadora criou um site chamado www.fiatmio.cc. Nele as pessoas eram convidadas a enviar ideias a respeito do desenvolvimento do carro. Desde então, todas as sugestões foram discutidas em grupo e as que mais se destacaram foram testadas pela equipe de design da Fiat, juntamente com as ideias criadas pelos engenheiros da própria empresa. Até o momento, 17 mil participantes de mais de 140 países foram cadastrados, quase 10.500 ideias foram enviadas, e 3 mil comentários foram postados.
Um internauta sugeriu que o carro tivesse um Sistema Captador de água da chuva para abastecer os reservatórios. Um outro pediu rodas que girassem 90 graus, o que facilitaria bastante na hora de estacionar. Teve um terceiro que gostaria de ver câmeras no lugar dos espelhos retrovisores.
Para que o Mio não virasse uma grande colcha de retalhos, com vários conceitos sobrepostos e desconexos, a Fiat sempre se preocupou em fazer uma análise aprofundada das sugestões enviadas. “A partir daí, nossos profissionais procuram entender quais as necessidades dos participantes, seus costumes, suas referências culturais, tendências visuais e preferências de estilo. O briefing determinado pelos internautas é a base fundamental de todo o projeto, mas o nosso trabalho vai muito além: nós interpretamos as necessidades e demandas dos participantes do Mio no presente para entender qual será a realidade desejada no futuro”, explica a montadora no site do projeto.
Para que o público pudesse acompanhar tudo de perto, a companhia postou vídeos mostrando a evolução do processo. Neles aparecem depoimentos das equipes que trabalham no projeto do Mio e quais critérios foram usados para escolher uma opção e descartar outra. Os recursos de simulação utilizados no desenvolvimento do protótipo são provavelmente a parte mais fascinante dos filmes. Entre eles, estão uma sala de projeção em 3-D ultra moderna, e uma incrível máquina que modela em argila uma representação do carro em tamanho real.
Mesmo com seu lançamento marcado para daqui a dois meses, alguns detalhes do Mio ainda não foram definidos, tais como seu sistema de propulsão (provavelmente será elétrico, mas qual tipo de motor?) e o material usado na carroceria. As ferramentas de navegação e a plataforma de integração com gadgets que serão utilizadas também seguem em discussão.
Para que não haja reclamações futuras, a montadora sempre deixou claro que o carro seria desenvolvido no sistema de licenças Creative Commons, que é mais flexível com relação aos direitos autorais. Ao contrário de filmes e músicas, onde o artista tem “todos os direitos reservados”, o Creative Commons trabalha com o conceito de “alguns direitos reservados”. O autor deixa de ser o único dono da ideia. Em breve todas as especificações do carro serão publicadas em CC.
Essa abertura e integração representam uma grande quebra de paradigma em uma indústria que se caracteriza por guardar a sete chaves seus futuros lançamentos. E pelo que se lê no site do Mio, a marca parece estar realmente surfando a onda cooperativa da internet 3.0. “Todo conteúdo será livre. A Fiat acredita que o conhecimento gerado neste projeto deve ser propagado sem restrições, podendo ser utilizado por simples usuários ou até mesmo engenheiros e outros fabricantes de veículos.”
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